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O verdadeiro hedonista aprecia viajar, beber e comer bem. Isso faz parte do modo de vida hedonista, mas não se trata apenas de ter prazer, e sim de fazer o bem a si e aos outros. O hedonista tem gosto pelo movimento, a paixão pela mudança e a improvisação, o desejo ardoroso de mobilidade, a vontade de independência, o culto de liberdade.
A origem do termo hedonista
De acordo com o Dicionário de Língua Portuguesa Houaiss, hedonismo é um modo de vida inspirado no/ou evocativo do hedonismo; dedicação ao prazer como estilo de vida, dedicação ao prazer dos sentidos, fundamento de todos os prazeres espirituais.
As linhas filosóficas
O hedonismo possui inúmeras correntes e linhas filosóficas. Cada uma das doutrinas concordam na determinação do prazer como o bem supremo, finalidade e fundamento da vida moral, embora se afastem no momento de explicitar o conteúdo e as características da plena fruição, assim como os meios para obtê-la.
O hedonismo é muito confundido com o epicurismo, apesar de eles possuírem divergências claras. O epicurismo surge através de Epicuro, que, levando em conta o hedonismo que o antecede, irá, segundo suas concepções, aperfeiçoá-lo, salientando que o prazer deverá ser regido pela razão, o que resulta em moderação.
Aristipo de Cirene (cerca de 435-335 a.C.), contemporâneo do filósofo Sócrates, é considerado o fundador do hedonismo filosófico.
Ele distinguia dois estados da alma humana: o prazer (movimento suave do amor) e a dor (movimento áspero do amor). Segundo ele, o prazer, independentemente da sua origem, tem sempre a mesma qualidade e o único caminho para a felicidade é a busca do prazer e a diminuição da dor. Ele afirma inclusive que o prazer corpóreo é o próprio sentido da vida. Outros defensores do hedonismo clássico foram Teodoro de Cirene e Hegesias de Cirene.
É importante notar que o hedonismo cirenaico difere do hedonismo epicurista, sobretudo no que diz respeito à avaliação moral do prazer. Enquanto a escola cirenaica preceitua que o prazer é sempre um bem em si e que será melhor quanto mais tempo durar e quanto mais intenso for, a filosofia epicurista determina que o prazer, para ser um bem, precisa de moderação (em grego, phronēsis).
Julien Offray de La Mettrie, iluminista francês, atualizou o hedonismo e seu discípulo, Donatien Alphonse François de Sade, radicalizou-o, transformando-o em amoralismo, transformando o ideal de “serenidade” em “frieza” diante de outras pessoas.
Posteriormente, as teses hedonistas foram retomadas pelos autores utilitaristas Jeremy Bentham e Henry Sidgwick. Este último autor distingue entre hedonismo psicológico e hedonismo ético: hedonismo psicológico é a pressuposição antropológica de que o ser humano sempre procura aumentar o seu prazer e diminuir seu sofrimento e que, assim, a busca do prazer é a única força motivadora da ação humana; já hedonismo ético é uma teoria normativa que afirma que os homens devem ver o prazer (os bens materiais) como o mais importante em suas vidas.
Aqui, diferenciam-se o egoísmo hedonista, no qual o indivíduo busca somente o seu próprio bem, e o hedonismo universalista ou utilitarismo, que busca o bem de todos (the greatest happiness to the greatest number is the foundation of morals and legislation, “a maior felicidade para o maior número de pessoas é a base da moral e das leis”).
É a ideia de que é possível a realização do máximo de utilidade com o mínimo de restrições pessoais, numa perspectiva que reduz o direito a uma simples moral do útil coletivo. Libertando-se deste critério quantitativo da aritmética dos prazeres, Stuart Mill assume o critério da qualidade e formula a lei do interesse pessoal ou princípio hedonístico: cada indivíduo procura o bem e a riqueza e evita o mal e a miséria.
Desta forma, a moral do interesse individual de Bentham aproxima-se de uma moral altruísta ou social. Atualmente, as teses hedonistas são defendidas por filósofos como o francês Michel Onfray.
A atualidade do hedonismo: Michel Onfray
Um dos grandes autores do hedonismo contemporâneo é o filósofo francês Michel Onfray.
Onfray é fundador da Universidade popular de Caen. Seu pensamento se caracteriza pela afirmação da razão, do hedonismo e de um ateísmo militante.
Para ele, a pessoa hedonista gosta de viajar, apreciar boa bebida e comida, busca satisfazer seus prazeres de modo responsável.
Existem duas formas de pensar o hedonismo, o hedonismo do ter e o hedonismo do ser.
O hedonismo do ter é o prazer daquele que tem, que possui, coleciona e considera que o grande prazer é comprar. Com certeza é um hedonismo ruim.
E existe o hedonismo do ser, que diz que o essencial não é ter, mas ser. Se constituir como uma pessoa livre, que recusou o poder, as honras e o dinheiro. O dinheiro é necessário, é claro, mas as honras não servem para nada e o poder não é algo que deve ser perseguido.
Então, esse é o hedonismo que não se resume apenas a ter prazer, mas também a proporcionar. O prazer que é obtido sem que ele também cause prazer em outros não é prazer de verdade.