Uma porta fora do tempo

Uma porta fora do tempo

Colunista José Renato fala sobre a Praça de São Pedro, no Vaticano

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23 Maio 2018 – Diário de Santa Maria

Colunista José Renato fala sobre a Praça de São Pedro, no Vaticano

Minha mente vagueia como pássaros. Voam longe. Meu coração palpita. Sinto a brisa leve tocar o meu rosto. Um aroma agradável de alecrim se espalha pelo ar. Sinto a presença de algo precioso e misterioso que se aproxima. Epifania. Uma sensação profunda de realização, no sentido de compreender a essência das coisas, como a última peça do quebra-cabeças que forma a imagem. As lágrimas escorrem em profusão.

Pouso e contemplo maravilhado e em êxtase uma das mais belas praças do mundo: a Praça de São Pedro. Localizada no Vaticano, aos pés da Basílica de São Pedro. As dimensões da praça são espetaculares: 320 metros de comprimento e 240 metros de largura. Nas liturgias e acontecimentos mais destacados, a Praça de São Pedro chegou a abrigar mais de 300.000 pessoas.

A construção da praça aconteceu entre 1656 e 1667, realizada por Bernini com o apoio do papa Alexandre XII. O mais impressionante da praça, além do seu tamanho, são as 284 colunas e 88 pilastras que circulam a praça em um pórtico de quatro filas. No alto das colunas há 140 estátuas de santos feitas em 1670 pelos discípulos de Bernini.

No centro da praça se destaca o obelisco e as duas fontes, uma de Bernini (1675) e outra de Maderno (1614). O obelisco, de 25 metros de altura, foi levado a Roma do Egito em 1586. A forma mais espetacular de chegar à Praça de São Pedro é pela Via della Conciliazione, uma longa rua que começa no Castelo de Sant’Angelo.

A Praça de São Pedro parece um caminho para o eterno. Uma porta fora do tempo para um lugar onde nada muda e toda a existência está em repouso. É isso que rituais, palavras e lugares sagrados fornecem: as preces, os cantos, os costumes, os passos e os gestos que devem ser repetidos de maneira exata e para os quais não há outra explicação além de que “é assim que as coisas são feitas”. Isso que é vivenciar uma experiência religiosa primordial, que usa a repetição como ícone da eternidade.

Desperto de meu sonho. Ligo a luz do abajour. Apanho e abro a Bíblia (aletoriamente) no livro Eclesiastes e leio em voz alta: “Assim eu concluí que nada é melhor para o homem do que alegrar-se e procurar o bem-estar durante sua vida; e que comer, beber e gozar do fruto de seu trabalho é um dom de Deus. Reconheci que tudo o que Deus fez subsistirá sempre, sem que se possa ajuntar nada, nem nada suprimir. Deus procede dessa maneira para ser temido. Aquilo que é, já existia, e aquilo que há de ser, já existiu; Deus chama de novo o que passou”.

Sorrio e volto a dormir. Espero regressar em breve.

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