Em 2016, completam-se 400 anos da morte de um dos maiores nomes da literatura mundial.
Em 2016, completam-se 400 anos da morte de um dos maiores nomes da literatura mundial.
O escritor francês Victor Hugo (1802-1855), perseguido por rebelar-se contra o golpe de Estado que, em 1851, colocou Napoleão III no trono da França, exilou-se, primeiro na Bélgica, depois na Inglaterra, e durante esse exílio de quase 20 anos, escreveu algumas de suas obras mais notáveis, entre as quais William Shakespeare. E assim, ele inicia a história:
Certa manhã, no fim de novembro, chovia, o vento soprava, a casa estava como que ensurdecida pelo ribombo exterior. Dois moradores divagavam, talvez absorvidos pela coincidência entre o começo do inverno e o começo do exílio. De repente, o filho levantou a voz e perguntou ao pai:
– O que pensa desse exílio?
– Que será longo.
– Como pretende preenchê-lo?
O pai respondeu:
– Vou contemplar o oceano.Fez-se silêncio. O pai retomou:
– E você?
– Eu vou traduzir Shakespeare.
Há, de fato, homens-oceano. O infinito do oceano pode estar num espírito, e, então, esse espírito se chama gênio, e temos Ésquilo, temos Dante, temos Victor Hugo, temos Shakespeare. É a mesma coisa contemplar esses homens e contemplar o oceano.
400 anos sem Shakespeare
Nesse ano de 2016, completam-se 400 anos sem Shakespeare – o bardo, o gênio atemporal, o poeta e dramaturgo considerado o ¿primus inter pares¿ da literatura universal. Aquele aclamado em prosa e verso como o maior escritor de todos os tempos.
Quem já não ouviu ou leu as famosas falas dos personagens shakespearianos? ¿Ser ou não ser¿; ¿Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã sabedoria¿; ¿Meu reino por um cavalo¿; ¿Consciência, palavra inventada pelos fracos, para infundir temor nos homens fortes¿… Com Shakespeare, a ideia de política, arte, sexo, amor está intimamente ligada uma a outra. O epistemólogo francês Edgar Morin vai mais além: ¿Shakespeare nos ensina pelo do grito desconexo, a conexão que há na realidade… Shakespeare não é um escritor de guerra somente. É do amor, da corrupção, de vários temas humanos¿.
Harold Bloom, quanto à criação dos grandes personagens shakesperianos, diz: ¿Antes de Shakespeare, os personagens literários são, relativamente, imutáveis. Homens e mulheres são representados envelhecendo e morrendo, mas não se desenvolvem a partir de alterações interiores, e, sim, em decorrência de seu relacionamento com os deuses. Em Shakespeare, os personagens não se revelam, mas se desenvolvem, e o fazem porque têm a capacidade de autorrecriarem (…) para tais personagens, escutar a si mesmos constitui o nobre caminho da individuação, e nenhum outro autor, antes ou depois de Shakespeare, realizou tão bem o verdadeiro milagre de criar vozes, a um só tempo, tão distintas e tão internamente coerentes, para seus personagens principais, que somam mais de cem, e para centenas de personagens secundários, extremamente individualizados¿.
É interessante que quanto mais lemos e refletimos sobre as peças de Shakespeare nos damos conta de que a reação certa é admiração. Como pontua Bloom, ¿as peças shakespearianas continuam a ser o limite máximo da realização humana: seja em termos estéticos, cognitivos, e, até certo ponto, morais, e mesmo espirituais. São obras que se colocam além do alcance da mente. Não somos capazes de atingi-las. Shakespeare prossegue ¿explicando-nos¿, em parte, porque nos inventou¿.
O bardo e o Brasil
O Brasil foi tomado por Shakespeare na metade do século XIX, quando o país buscava sua identidade. De Álvares de Azevedo a José de Alencar, os escritores românticos o leram bastante, diz João Roberto Faria, da Universidade de São Paulo (USP).
Os mais tocados pelo dramaturgo inglês foram Gonçalves Dias e Machado de Assis. O primeiro relacionou sua peça Leonor de Mendonça, de 1846, a Otelo, num prólogo brilh”