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25 Abril 2018 – Diário de Santa Maria
Ser autêntico na vida, às vezes, envolve dizer o que ninguém espera escutar. Existe uma história que ilustra bem essa questão. Uma professora pediu a alguns estudantes que elegessem as Sete Maravilhas do Mundo atual. Enquanto os votos eram apurados, a professora notou que uma jovem calada ainda não havia mostrado o que escrevera e, por isso, perguntou se ela estava com dificuldades para completar a lista.
– Estou, respondeu Sofia.
– Não consigo me decidir. São tantas!
– Bem, então leia o que já escreveu e talvez possamos ajudá-la _ disse a professora.
Sofia hesitou antes de responder:
– Acho que as Sete Maravilhas do Mundo são: ver, ouvir, tocar, provar, sentir, rir e amar.
A sala de aula ficou em silêncio. A verdade é que nunca pensamos nessas coisas tão simples e corriqueiras como as maravilhas que verdadeiramente são. Marcel Proust afirmou (em uma de suas reflexões mais célebres): “a verdadeira viagem de descobrimento não consiste em buscar novas paisagens, mas sim em ter novos olhos”.
Corrobora da mesma opinião, o escritor e cineasta Paul Auster que concluiu:
“Dizem que é preciso viajar para ver o mundo. Às vezes, acho que estando quietos em um único lugar, com os olhos bem abertos, somos capazes de ver tudo o que podemos usar”.
Nesse sentido, relembro de uma viagem que meus sentidos afloraram. Tive uma impressionante experiência sensorial (principalmente relativa a visual) numa viagem que fiz as ruínas romanas de Conímbriga. Tem se conhecimento da existência de Conímbriga já no século XVI. Porém, nenhum trabalho seria feito até o século XIX (1898) quando começaram as primeiras escavações. Em 1899, as primeiras sondagens importantes e o estudo científico do achado.
Conímbriga é um dos maiores sítios arqueológicos dos que há vestígios em Portugal. Localiza-se a 17 quilômetros de Coimbra, a estação inclui o Museu Monográfico de Conímbriga, onde estão expostos muitos dos artefatos encontrados nas escavações arqueológicas.
Fiquei surpreso ao ver as escavações de edifícios públicos, anfiteatro, fórum, praça, templo, termas e casas romanas. Contemplava maravilhado e ciente da civilização que por ali passou. Estava também admirado e encantando com a paisagem campestre ao redor. Era um frenesi.
Conímbriga foi um local em que a história da pequena Sofia fez sentido para mim. E relembrei também as poderosas palavras da ativista americana Hellen Keller, que mesmo cega, surda e muda foi capaz de desfrutar dos sentidos que lhe restavam em experiências quase místicas. São delas as seguintes palavras:
“Use os olhos como se fosse ficar cego amanhã (…) Escute a música das vozes, o canto dos pássaros, as pequenas notas de uma orquestra, como se amanhã fosse ficar surdo. Toque cada objeto como se o sentido do tato lhe fosse faltar amanhã. Sinta o aroma das flores e o sabor de cada bocado de comida como se amanhã já não pudesse cheirar nem sentir o gosto de nada”.
Caro leitor, conduzido pelas palavras de Hellen Keller e a bela história de Sofia, deixe-se levar pelas belezas do mundo ao seu redor.