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A decepção é um ensinamento que forma caráter e que nos diz centenas de coisas. “Já a esperança é cheia de confiança. É algo maravilhoso e belo, uma lâmpada iluminada em nosso coração. É o motor da vida. É uma luz na direção do futuro”.
“Procuro ar para respirar. Mas não encontro. Sinto-me sufocado. Sinto vontade de chorar. Não há esperança. Não há futuro”.
Essas frases construídas a partir de experiências negativas, aparentemente, parecem acompanhar nossa frágil existência.
Vimos isso, em diversos momentos de nossa trajetória: nos sonhos frustrados, nos desejos não alcançados, na perda de entes queridos, no fim de um relacionamento e etc.
O pensamento shakespeariano retratado na peça Macbeth resgata a ideia da decepção e acompanha o sentimento de nossa bruxuleante existência: “A vida não passa de uma sombra que caminha, um pobre ator que se pavoneia e se aflige sobre o palco – faz isso por uma hora e, depois, não se escuta mais sua voz. É uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria e vazia de significado.”
Viver entre decepções, desilusões, angústias e aflições são marcas de nosso convívio, de nosso viver, de nosso existir.
Na Grécia Antiga, o jovem Platão passou por uma situação de decepção e esperança.
Desde a mocidade, Platão interessou-se pela Filosofia. De família aristocrata e tradicional, Platão descendia do grande legislador Sólon e era parente de Cármides e Crítias, dois dos “30 tiranos” que assumiram o poder, por algum tempo, em Atenas.
O interesse por filosofia e política surgiu desde os primeiros contatos com figuras proeminentes de Atenas.
Primeiro, por intermédio de Crátilo, pensador que adotava de forma certamente empobrecida, a tese de Heráclito de Éfeso sobre o movimento universal que transforma incessamente todas as coisas.
Mas o grande acontecimento da juventude de Platão foi encontrar Sócrates, o conversador insaciável, o perguntador implacável, espécie de rogue loquaz.
Sócrates afirmava saber apenas que nada sabia. E por isso perguntava e perguntava. Atribuía uma missão “divina”: a missão de conhecer a si mesmo e de levar também aos outros ao autoconhecimento, à conquista da própria alma.
Para isso era necessário o diálogo bem conduzido.
E seguia dois pontos cruciais: a) começava por demolir as opiniões frágeis e enganosas, as noções equivocadas e sem base, as ideias aceitas e repetidas do interlocutor;
b) após a descoberta do erro e o interlocutor admitir a sua própria ignorância, havia um esforço de dar à luz a opiniões mais sólidas e fundamentais.
Nesse momento, Platão é levado a reformular seu projeto juvenil de participação política.
Compreende que o desejo de atuar politicamente deve passar primeiro por um processo de iluminação e purificação do tipo socrático.
Para agir com retidão e justeza, é preciso, antes, saber o que é justiça; Platão, dessa forma, reconhece que não basta realizar uma política qualquer, insegura e oportunista.
É necessário estabelecer primeiro as bases para a política, a justa política. Fazer política pressupõe, a rigor, conhecimento e preparação. Ou seja, a política correta não pode ser feita sem uma ciência, uma ética, uma pedagogia.
Em 399 a. C, Platão sofre uma dolorosa lição; a sua cidade querida, apesar de democrática, estava longe de ser uma cidade ideal. Sócrates é acusado perante a Assembeia por dois crimes: primeiro, de corromper a juventude e segundo, de descrer dos deuses tradicionais da cidade.
Julgado, acaba condenado a morrer bebendo cicuta.
Platão percebe que o justo Sócrates não pudera continuar viver em Atenas e fora por ela assassinado. Na concepção de Platão, a partir desse dramático evento, fazer política torna-se, assim, projetar e tentar construir essa cidade ideal, digna de Sócrates.
E a filosofia também a política passa a ser a esperança, a procura dos fundamentos teóricos desse projeto político.
Quando funda a Academia, por volta de 387 a.C., o objetivo de Platão não é apenas realizar investigações filosóficas e científicas, pretende ser também um centro de preparação para uma ação política baseada na busca da verdade e da justiça.
Platão entende que o conhecimento e a preparação devem ser esforços conjuntos da procura da verdade, exercício permanente para conhecer mais e melhor.
Não é uma doutrina. Não é algo fixo, nem rígido, nem imutável.
É uma investigação sempre aberta, viva, inquieta e insatisfeita.
Ousa saber!!! Mais! Mais! Mais!
Assim, a esperança de Platão na política e filosofia que se descortina, ao longo do tempo, é o apelo do amor à sabedoria.
Já diria o filósofo Ralph Waldo Emerson: “Julgamos a sabedoria de um homem por sua esperança”.