“Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma força o resgata”. Carlos Drummond de Andrade
“Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma força o resgata”.
Carlos Drummond de Andrade
Estrelas cintilam na escuridão. Uma coruja decola do carvalho planando em busca de roedores. A lua passeia pelo céu noturno, acima das distantes colinas alinhadas. Alta, acabará por mergulhar no horizonte…não há destino no final dessa longa jornada. O caminho é tudo. Será um caminho longo, mas constante. A noite profunda oculta forças da natureza.
Misteriosas… Intensas… Poderosas…
Não há dúvida de que esse belo momento ficou eternizado na minha memória, na minha lembrança.
Eternidade é um dos desejos mais profundos do ser humano. Todos nós queremos ser eternos. Não é por menos que a grande esperança que quase todas as religiões nos oferecem é a promessa de vida eterna. Se vivermos o momento presente com intensidade, com vontade de viver, procurando nos libertar do passado e do futuro, eternizamos o presente.
Digo que viver a eternidade no momento é estar completamente aberto ao que os místicos medievais chamavam de nunc stancs, o instante momento, o “agora”, que nos envolve e nos oferece um momento eterno da vida.
Há um poema maravilhoso de Cassiano Ricardo – que expressa isso muito bem – chamado O Relógio que diz:
“Diante de coisa tão doida Conservemo-nos serenos Cada minuto da vida Nunca é mais, é sempre menos Ser é apenas uma face Do não ser, e não do ser Desde o instante em que se nasce Já se começa a morrer.”
Como é valioso ater-se aos pequenos momentos de alegria do cotidiano, ou seja, é fundamental que os pequenos instantes de prazer não sejam negligenciados, mas sim valorizados: aquele cafezinho com o amigo, rir de uma péssima piada contada, brincar com o cachorro, acariciar o gato, abraçar e beijar um familiar ou alguém que amamos, ouvir uma música ou participar de uma brincadeira.
A vida é feita desses pequenos momentos extraordinários.
Valorizar esses instantes eternos de nossa breve existência é o que nos fazem sentir vivos e como afirma o poeta chileno Pablo Neruda: “Vivo para florescer outros jardins e, sem perceber, o meu se abarrota de rosas e vivo, cada dia, como se fosse cada dia. Nem o último nem o primeiro – O único…”
Não podemos esquecer que os dias passam.
O tempo passa e nos dá a impressão de realmente correr em alta velocidade. Deixamos de prestar atenção naquilo que realmente interessa na vida.
Vivemos, assim, até o momento em que somos obrigados a experimentar uma situação que mexa com a nossa vida e nos faça (re) lembrar de nosso próprio ser, tanto de nossas várias limitações como de nossas infinitas capacidades. São essas experiências que nos faz perceber o essencial da vida. Cito como exemplos: a morte de alguém que amamos, o sofrimento físico ou mental, uma determinada luta por algo importante, uma difícil doença, a culpa, o remorso, a solidão etc.
“Tem gente que passa a vida inteira travando a inútil luta com os galhos. Sem saber que é lá do tronco que está o coringa do baralho” (Raul Seixas).